UM TESOURO SILENCIOSO
Esta história, conforme me foi contada, fala de um Macaco Curioso em busca de um tesouro.
Um tesouro, sim!! Como os piratas!!
Macaco Curioso não estava exatamente procurando um tesouro, mas sua amiga, a Garça Branca, o convenceu.
A coisa foi assim...
Macaco Curioso estava cansado. Não cansado de brincar, mas cansado de outras coisas. Onde quer que ele olhasse, ele via coisas ruins. Olhava para um lado e via tristeza, olhava para o outro lado e via dor, olhava para o outro lado e via luta, olhava para o outro lado e via raiva, olhava para o outro lado e via solidão, e olhava para o outro lado e via rostos sérios. Sim. Macaco Curioso tinha o hábito de olhar seis vezes!! E ele olhava devagar, bem devagar...
Um dia, quando ele estava muito ocupado olhando coisas que não queria ver, sua amiga passou voando.
-O que foi, amigo? - perguntou a Garça.
- Estou cansado de ver coisas que não quero ver, e de ouvir coisas que não gosto! Macaco choramingou.
- Eu posso ajudá-lo se você quiser! sua amiga ofereceu. Posso levá-lo a uma caverna, onde dizem que existe um tesouro! Diz a lenda que este tesouro secreto cura todos os males e alivia todos os sofrimentos!
-Vamos já! - gritou o Macaco - enquanto, com um salto, subia nas costas da amiga
-Segure firme! Vamos la!
E foi assim que a Garça Branca, carregando o Macaco Curioso nas costas, ergueu-se no ar. Ele estava voando alto, muito alto. E lento, muito lento...
Eles voaram tão alto que alcançaram as nuvens. E as nuvens passavam ao lado deles e eles, atónitos, viam-nas passar devagar, muito devagar... e seguiam-nas com o olhar atento de quem nunca viu as nuvens de perto.
Assim chegaram ao topo de uma montanha, onde viram uma placa misteriosa que dizia:
"Para chegar ao tesouro, você deve separar as montanhas que impedem a entrada, empurrar o céu para o mais alto e abrir a porta da caverna escura"
-Me da medo! -disse Garça - te espero em cima dessa pedra!
Macaco Curioso, por mais curioso que fosse, estava mais do que com medo, estava com muito medo! Mas a lembrança de tudo de que não gostava, e a esperança de encontrar uma solução para o seu problema, foi o que o levou a juntar ar e empurrar devagar, bem devagar, para separar as montanhas. Ele reuniu ar e empurrou; e descansou enquanto ele o soltava. Ele teve que fazer isso seis vezes, porque todos nós sabemos que as montanhas são grandes e pesadas!
Quando o fez, não viu nada além de nuvens e lembrou-se do que dizia a placa. Ele teve que empurrar o céu. Alto, muito alto.
O Macaco Curioso era muito inteligente e lembrou-se de que tinha funcionado para ele reunir ar para empurrar e soltá-lo lentamente para descansar. E assim ele colocou as mãos à obra. Ele inflou a barriga e empurrou para cima devagar, muito devagar. Uma, duas, três vezes... ele teve que fazer isso seis vezes. E ele consegue.
À sua frente havia uma enorme porta de ferro, cobrindo a entrada de uma caverna que ele imaginava ser escura, misteriosa e assustadora.
Mas se ele já havia chegado lá, não iria parar agora. Então ele reuniu coragem, reuniu ar e empurrou a porta que o separava de seu tão esperado tesouro.
Você não sabe quantas vezes ele teve que empurrar? Sim. Vocês adivinharam. Seis vezes!! Três com uma mão e três com a outra. Sempre reunindo ar para empurrar e soltando-o lentamente para que pudesse descansar seus músculos exaustos.
E sabe de uma coisa? Ele conseguiu. A enorme porta se abriu com um barulho sinistro, como sempre fazem as portas enormes que cobrem as cavernas.
Diante dele apareceu, como em uma história, um grande baú de tesouro. O Macaco Curioso, claro, imediatamente se abaixou para abri-lo, e você pode imaginar o tamanho da surpresa ao ver que não havia dinheiro dentro, nem jóias, nem moedas de ouro, nada. Apenas um pedaço de papel enrolado e amarrado com uma fita vermelha.
O papel dizia, e o Macaco jamais o esqueceria:
“O segredo é o silêncio. Sinta sua respiração, sinta seu coração e fique em silêncio."
Macaco levantou o papel, estendeu os braços para mostrá-lo a sua amiga; pois juntos haviam conseguido, ergueu-o emocinado para o céu, e fechando os olhos, levou as mãos ao umbigo, permanecendo em absoluto silêncio...
Esta história, como me foi contada, termina aqui.
Mas gosto de imaginar que o Macaco Curioso, toda vez que precisa ficar calmo, revive a aventura com sua amiga Garça, e depois senta em silêncio, respira fundo e fica respirando devagar.
Ouvindo sua respiração.
Ouvindo seu coração.
Ouvindo o silêncio.
Julio Perera Lopez
Porto de Galinhas, PE, Brasil
13/07/23